sexta-feira, 12 de junho de 2009

War of the Machines



O que diferencia um ser humano de uma máquina?

O questionamento é o mesmo dos três filmes anteriores na saga Terminator. Mas a abordagem é completamente outra. McG é mais conhecido como produtor (responsável por bancar o sucesso de seriados como The O.C. e Supernatural, além de ter escrito e produzido Fastlane), mas como diretor ele te pôe dentro do filme. McG faz valer cada centavo da experiência numa sala de cinema. Nos primeiros cinco minutos de filme você já tem um certo nível de tontura; a câmera age como se fosse uma terceira pessoa dentro da cena, te dando a experiência real dentro do futuro sombrio de 2018.

Os sustos são vários e muito bem filmados. O trabalho de dublês é excepcional, digno de prêmio; efeitos especiais? O que o primeiro Terminator inovou nesse campo foi aprimorado com o tempo e tá um vinho gostosíssimo. O melhor em computação gráfica é justamente o maiooor spoiler do filme, o mais surpreendente, o mais absurdamente incrível, a maior homenagem de todas, a que me derrubou o queixo por vários minutos.

Falando em homenagens... eu esperava só uma sequência do Terminator - já no futuro, com um John Connor crescido e desesperado pra salvar a humanidade como o trailer prometia. Já seria muito satisfatório se fosse só isso. Mas a trama tá muito bem amarrada, e as homenagens... bom, eu não vou spoilar tudo pra você, leitor. Só digo que existe uma frase. Existe uma música! Existe o efeito especial que me fez ficar sem palavras; e uma cena muito parecida com a de um Terminator antigo. Só.

Deu vontade, né? Vá pro cinema. Já. Vale caaada centavo.

Continuando... elenco. Meu segundo motivo pra assistir um filme (o primeiro é o título, especialmente se é adaptação ou sequência). Christian Bale é o novo super-herói de ação. E eu não tô falando dos super-heróis de ação da época do primeiro Terminator - aqueles com muito músculo e pouco talento. Já vimos nos Batman que o homem tem tudo o que precisa pra nos convencer de que é o Homem-Morcego ou o profetizado líder da resistência humana. Anton Yelchin já tinha me chamado a atenção no Star Trek (é o mesmo ator jovenzinho que fez o papel do navegador russo igualmente jovenzinho da Enterprise) e continua chamando. Fiquem de olho no garoto.

Sam Worthington... bom, primeiro a minha enciclopédia nerd adverte: esse sobrenome nos é familiar. Warren Worthington III é o nome real do Anjo, o aristocrata charmosíssimo (e eventualmente super problemático) de X-Men, que no gibi constituía o time inicial: Ciclope, Jean Grey, Fera, Anjo e Homem de Gelo. Digamos que Sam Worthington é a melhor tirada da trama desse Terminator. Ele é australiano e agora ele tá saindo do ninho em grande estilo. Querem mais mundo Marvel? A Sra. Kate Connor é a versão ruiva da mesma atriz que interpretou a loira Gwen Stacy em Spiderman 3 (Bryce Dallas Howard).

Daqui a dois ou três anos... mais Terminator pra gente. Contem os dias.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Um caso gramatical

Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.