Pode te custar o emprego.
Pode te custar os tímpanos.
Pode te custar a sanidade.
Todo mundo já sabe que Floripa está afogada em carros, trânsito e elevados sem duplicação de pistas subsequentes (vide a lenda do elevado do Trevo da Seta). Mas hoje eu vou falar da minha área.
Eu sou pedestre profissional, digo isso a todo mundo. Não sei andar bem de bicicleta o suficiente pra andar na rua e sinceramente, eu temeria pela minha vida se soubesse. Já vi bicicleteiro ser atropelado feio em simples saídas de estacionamento de restaurante. Não tenho carro e me recuso a ter um. A cidade já tem carros demais que só atrapalham o trânsito e se as pessoas tivessem menos carros e mais noção, talvez o sistema público de transporte fosse melhor. Mas acho que ninguém pensou no global e só olhou pro próprio umbigo.
Já me incomodei com o sistema de ônibus de Florianópolis mais de uma vez. Intermunicipal nem se fala, né. Já morei na Praia do Sonho e tinha de vir e voltar de carona dirigindo por 1h porque o ônibus pra Praia do Sonho fica na rodoviária. Não era nem no terminal, custava R$5 cada corrida e levava 2h pra chegar no destino. E não tinha desconto pra estudante, até onde eu sabia, e eu estudava na UFSC.
Me incomodei anos antes com a integração. Não com a ideia, eu adorei a ideia. O problema foi que na primeira semana, ou nos primeiros dias, as linhas de Volta ao Morro via Pantanal e Carvoeira paravam no TISAN. Ao fim da primeira semana, não paravam mais. Nem o UFSC Semidireto. Eventualmente, mais nenhum. Não sei o que aconteceu, mesmo. Hoje em dia o TISAN é meio que um estacionamento de ônibus, o que é uma perda de dinheiro publico gigante e meio estúpida.
No último reajuste dos ônibus, eu participei como pude dos protestos #contraoaumento via Twitter. Uma das coisas que eu notei, pesquisando nos sites das empresas de ônibus, é como os ônibus excluem o público de lugares elitizados: NÃO TEM LINHA DO JURERÊ AOS DOMINGOS. Interessante, né? Depois vem o Prates falar que botar carro na mão de pobre é um erro. E botar ônibus na mão de rico é o quê?
Nessas pesquisas, também descobri que um ônibus custa uns R$300 mil. Cada. Parece muito né? Mas acontece que 10 carros populares pagam um ônibus hoje em dia. Parece menor agora né?
Continuando com as estatísticas: os carros em Florianópolis carregam 1,1 pessoas por carro. Ou seja, basicamente quem está dirigindo e só. Então vamos voltar a pagar o ônibus: cada ônibus carrega centenas de pessoas por dia - mais de 65 pessoas por corrida, que seria um ônibus lotado - e custa o equivalente a 10 carros populares (uma fração pequena da quantidade de gente que carrega). Cada carro em Floripa carrega 1 pessoa e custa R$30 mil. Nossa, como fica caro, né?
Isso só considerando a questão financeira. Não tenho estatísticas sobre a quantidade de emissão de gases poluentes na atmosfera. Tudo bem, ônibus andam a diesel e carros têm mais opção de combustível, mas se você dividir por pessoa carregada, a conta da emissão de gases também fica maior por carro. Então será que 1 ônibus carregando centenas de pessoas não polui menos que 1 carro carregando 1 pessoa por dia?
Outra questão deve ser considerada numa cidade insular: não temos muito terreno nem espaço nos terrenos. Vagas para mais de um carro são artigo de luxo e são cobradas com todo o luxo que agora significam. Ninguém tem que estacionar ônibus. Será que vale a pena?
Sim, eu concordo. Não temos muitas linhas, nem muitos horários e o preço está cada vez mais ridículo em relação ao serviço ruim que é oferecido. Além disso, os ônibus não são seguros à noite e mesmo com o sistema de cartões, ainda existe gente que assalta ônibus e com isso assusta muita gente por uns R$100.
Aí eu pergunto:
Será que a solução pra resolver esse problema é comprar um carro?
Essa solução resolve o seu problema ou o problema da cidade?
Será que um carro caro, poluente e espaçoso que só carrega você é mais negócio?
Você vive em uma ilha, mas você não é o único habitante dela, certo?
Caso você concorde comigo, isso nos leva a mais uma pergunta: tá, e como eu vou resolver isso? Eu, aqui, na minha humilde insignificância, faço o que pra resolver?
Eu tenho o meu exemplo e algumas ideias.
Eu moro perto de onde eu estudo e trabalho. Perto no sentido de poder andar por menos de 30min pra chegar onde eu costumo ir. Estudar, trabalhar, comprar, consumir, festar também. Claro, eu pago mais pra morar num lugar central e não possuo casa porque compra de imóvel em Floripa, aff. (mas essa é outra discussão, deixa pra lá) Pela falta de segurança, não ando de ônibus à noite, mas tenho amigos e conhecidos com carro que me dão carona quando necessário (opa, cabem duas pessoas num carro, olha isso) por uma singela contribuição.
Bom, então, eu tenho algumas ideias, né. O que você acha de:
- Carpooling? Carpooling é o rodízio de carros para levar e buscar crianças que moram perto (digamos, no mesmo condomínio) pra mesma escola, ou de pessoas irem e voltarem do mesmo local de trabalho ou estudo. A ideia é cada dia uma pessoa (ou um dos pais) usar o seu carro, em rodízio. Segunda vai você, terça vai sua vizinha do Bloco C, quarta vai o avô gente boa do Bloco D. Quantos vizinhos você tem que estudam, trabalham, ou têm filhos que vão todo dia pro mesmo lugar que você?
Gente, sério, só carregando confortavelmente 5 pessoas por carro - porque sério, cabem 5 pessoas num carro, eu JURO pra vocês - resolveria poluição, estacionamento, engarrafamento, e todo mundo iria confortavelmente e seguro pra onde tem que ir.
Uma outra sugestão que eu tenho é inundar a Secretaria Municipal de Transporte com ligações, e-mails, entradas de pedidos de ouvidoria e processos pedindo a melhoria do transporte público. São empresas privadas trabalhando pelo transporte público. Será que elas podem ser processadas no PROCON? Você trabalha em prédio público? Pode ligar uma vez por dia pra lá e reclamar. Assim você pode usar o recurso público pra melhorar o próprio serviço público. Você tem bônus de celular pra ligar pra fixo? Liga pra lá, você mal vai usar esse bônus mesmo...
Lembre-se que você não tá fazendo isso só por você, mas por todo mundo na cidade.
Lembre-se que você vive em uma ilha, mas a ilha não é deserta. (;
terça-feira, 19 de abril de 2011
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2 comentários:
Mandou muuuuuuito bem, Meg! ;)
Não podemos nos esquecer, além de tudo, da criminalização do movimento do passe livre, que virá novamente à tona no momento em que as pessoas começarem a protestar com todo o direito e propriedade sobre a situação em Florianópolis. Ótimo texto, Meg.
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