sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Canção de amigo

Tendo o autor no bem-querer
É difícil ler sua obra
E pensar literatura.

O amor de outrora dói
Pela injustiça de tal core
Ser jogado assim ao vento
Ser ferido assim no tempo
Ser magoado assim no chão.

Esse amor assim me sangra
Sendo tudo o que eu mais quero
Tendo medo de tal mágoa
De fechar seu coração.

De perder assim o bardo
Cujo amor é infinito
Cujo abraço é acalanto
Cuja companhia é sal
Sal, açúcar, vinho e trova.

A canção que escrevo ao amigo
Mostra assim a minha dor
E o medo de nem ser
A segunda mais querida
Do carinho desse homem.

Não tenciono ser primeira;
Essa dor e essa ferida
Levam tempo, levam choro
Pra que o mar da areia apague--
Tenho calma, e eu espero.

A chave do coração
Que no fundo lá se encontra
Será minha, serás minha!
Mesmo que me vente contra
Persevero e aqui espero.

Estando meu coração aberto
Não me necessita casa
Espero que a tua se abra
Enquanto isso, aqui tu pousas
Recostado em meu abraço
Tens a casa sempre aberta
Tens o meu sorriso pronto
Tens meu amor; e isso me basta.


Inverno. 2010.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Journée au naturelle

Quero luz de verdade
luz do sol
sol nas nuvens
nuvens de Monet.

Quero ar de verdade
ar solto e livre
ignorando os carros
e os espaços fechados.

Quero viver com um bicho.
Faz tanto tempo desde leal
Enquanto não tenho um,
Me acompanham os gatos da rua.

Quero uma estrela,
a primeira da noite,
fita-la até tremer
que trema ela, ou eu.

Quero ouvir os pássaros
Marrecos buzinando no lago
Quero ver minhas borboletas
Todas elas, todas cores,
Todas flores.

2010. Winter.

Timid surprises

How could I possibly ever
In this world make you shy?

With you I pulverize into sighs
I melt under the sounds of your voice
I smile over the heat of a shared seat
I burn with the intensity of my eyes
Staring when nobody's watching.

For these moments, for now,
Are mine and only mine
--I wish they were yours, too.

For a while I too have been shy
But one's kindness is stronger,
No grandeur is obstacle to me.
Such adorable tenderness
Should be praised, nurtured,
--And if you let me, I will.

I must not make you shy!
You're so much more heart
I want to learn that from you
So come. Don't be shy.


2010. Winter.

Multiplicities

The men in my head
Fuse inside and on
I want them all.
This sweetness, that boyhood, this other intimacy, that other sex.

I feel them all on me
At the same time.
One’s groove, two’s calmness, three’s intensity, four’s hunger.

I crave for one and for all
I am completely theirs.
A’s eyes, B’s poise, C’s admiration, D’s cumplicity.

They’ll never know
How much I Love them all.
Love is universal and complete

This is not a tie,
This is not arresting
My holding them into my arms
Will never hold them back.

My head
In my lowly-lit orgy
Holds me in their arms
Sings me to sleep in one of their voices
Listens to me with other’s intense eyes
Attentive eyes
And I smell another.
At the same time the timid touch of the boy’s hands cover me in naught

But the taste is the one I don’t want to remember
The one I’d deny all my principles for
Inconditional, unlimited delight
The one I did wrong by doing him right.

This fusion is driving me mad
I want one in reality
Not twenty in mind
Give me one, I’ll trade them all off

...But which?


2010. Winter.