terça-feira, 13 de maio de 2008
A Gata e o Gato
Em Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's, 1961), Holly Golightly acha que Gato é um pobre coitado sem nome; os dois se encontraram perto do rio, ele está lá porque quer, já que Holly não é sua dona. Um não é dono do outro, do jeito que Holly quer. Ela se considera um espírito livre, uma coisinha selvagem, que não pode pertencer a ninguém, que não pode ser enjaulada. Ela considera que Gato seja igual.
“Todo homem pensa que se ele levar uma garota pra jantar, ela vai se enrolar aos seus pés como uma gatinha peluda.” – Holly acredita que os homens de sua sociedade domesticam suas mulheres de acordo com seus interesses, do mesmo modo que as pessoas domesticam seus gatos de acordo com seus interesses.
Gato acorda Holly; ele participa das festas de Holly à sua maneira, assistindo a agitação de cima das prateleiras. Ele espera por Holly na pia que nunca é usada, até que ela esteja infeliz – e é aí que Gato se mantém por perto, como quem não quer nada, não obrigando Holly a aceitar seu apoio. Gato espera por comida, sem reclamar, fiel e silencioso. Holly pega leite para Gato numa taça, e bebe uma parte. Ela sempre pensa em alimentar Gato, em ajudá-lo da maneira que puder, dando-lhe sardinhas.
Holly chama Paul Varjak de Fred, o nome de seu irmão, da pessoa que ela mais ama. Paul escreveu um livro de contos chamado Nove Vidas. No hemisfério norte, acredita-se que os gatos têm nove vidas ao invés de sete.
Moon River, wider than a mile, I'm crossing you in style some day. Oh, dream maker, you heart breaker, wherever you're going I'm going your way. Two drifters off to see the world, there's such a lot of world to see. We're after the same rainbow's end -- waiting 'round the bend, my huckleberry friend, Moon River and me. Pode-se interpretar a letra da canção-tema do filme em relação à perspectiva do Gato: Ele vai onde Holly for, à deriva pelo mundo afora, em busca do mesmo fim do arco-íris. Moon River pode significar os desejos de Holly em relação ao mundo, e a fidelidade do Gato a seu lado.
Em seu pequeno impulso cleptomaníaco, Holly e Paul roubam máscaras, de gato e cachorro, respectivamente. Isso pode ser um modo sutil e inteligente de ligar mais fortemente a personagem de Holly ao personagem do Gato.
Quando Holly não está em casa, Gato fica de guarda para ela, e tenta afugentar Paul – ele sabe que Holly não quer mais se prender a Paul. Quando o telefone toca, Gato é o primeiro a perceber, mas ele não pode ajudar mais – ele é só um gato, um pobre e velho gato perdido e sem nome. No apogeu da dor, os impulsos violentos de Holly também atingem o Gato, que se joga pelos ares quase tanto quanto os pedaços do quarto destruído – e do coração destruído. Enquanto Holly tricota, Gato nem se importa com o novelo de lã (objeto de preferência de vários gatos), e se adapta facilmente à nova mobília abrasileirada. Quase tentando avisar que há problemas à frente, Gato espera por Holly na janela. Paul traz Gato para o táxi, e ele espera docilmente por Holly.
“Sou como Gato; Somos dois coitados sem nome e sem dono. Nós nem pertencemos um ao outro!” – Tentando provar que ela e o Gato não pertencem um ao outro, ela enxota o gato do táxi – e não o faz sem encontrar resistência do animal. O gato não quer ficar sozinho, ele quer ficar com Holly. Paul deixa Holly e volta pelo Gato: pelos sentimentos puros de Holly que se exteriorizam no Gato. Em uma adorável epifania, Holly percebe que é bom pertencer a alguém e volta para pertencer a Paul e para ser dona de seu Gato. Desesperada, ela procura pelo Gato num beco, e ao mesmo tempo, Holly encontra sua parte domesticável, doce e pura, ao encontrar seu Gato.
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